O quotidiano é uma revelação constante. A avaliação que fazemos de cada um dos que se cruzam connosco também o é. Jogamos interiormente com experiências passadas, preconceitos aos quais não conseguimos fugir e tendências que gostamos de acompanhar.

Continuamos a ser individuais e únicos, mas também semelhantes. A cada cruzamento de olhares acrescentamo-nos uma experiência. As ideias mudam, as intenções evoluem e somos cada vez mais.

Viajar é, por isso, uma forma de estar que se estabeleceu entre nós. Uns viajarão para coleccionar vivências, outros para guardar fotografias, mas independentemente da forma não evitamos a mudança.

A humanidade é, por si só, um desfile diante dos nossos olhos. Há novos panos, onde tecemos palavras nunca ouvidas; há novos olhares que nos tocam desconhecidos; há novas formas que nos invadem indelevelmente.

As pontes que construímos entre os mundos são mais robustas. Ficamos mais fortes a cada vínculo que assinamos com uma viagem. Podemos percorrer milhas de voo ou passos da nossa rua, mas viajar mede-se em sentimentos.

Somos avaliados pelo que vestimos, pelo que comemos, pelas métricas que cumprimos, mas as viagens deixam-nos imunes ao lado negro desses julgamentos. Vestimo-nos com algo que nunca imaginamos, comemos insectos que antes nos arrepiavam e deixamo-nos levar pelo infindável mundo que afinal temos dentro de nós.

Quando chegamos à pista de aterragem que nos viu partir somos o fiel depositário de tudo o que vamos guardar. Quer queiramos, quer não, sê-lo-emos para sempre, porque há sempre um destino, mas o que conta é a viagem.

Escrito por Fernando Miguel Santos do blog Pista de Aterragem